Aos 28 dias do mês de julho de 1862, nascia no Porto um dos
seus filhos mais virtuosos e brilhantes, Aurélio da Paz dos Reis.
Teria uma vida plena, entalhada no ideário republicano,
maçónico, artístico, associativo e de serviço público.
Desde cedo, em 1882, com apenas 20 anos de idade, torna-se
membro da Comissão Executiva dos Empregados do Comércio, abrindo em 1893, a
Flora Portuense -hoje a Confeitaria Ateneia-, sendo esta a primeira casa do
género em Portugal.
O seu Porto, sob o ponto de vista político, tornava-se num campo
de emotivos debates e de constantes conspirações contra a monarquia. Estas, tinham
o seu espaço privilegiado nos cafés frequentados
pela elite intelectual, da qual Aurélio da Paz dos Reis fazia parte (o café Lisbonense,
o Central, o Suíço da Praça ou o Guichard), e, ao mesmo tempo, num outro espaço
de singular importância na ascensão da dinâmica revolucionária da cidade neste
fim de século, as Lojas Maçónicas. Aurélio da Paz dos Reis foi mação, iniciado
na Loja Honra e Dever, em 1889, adotando o nome simbólico de Homero, tendo em
1895, se filiado na Loja Ave Labor e, finalmente, em 1901, transitado para a Loja
Liberdade e Progresso, na qual se manteve até à sua morte.
Estes espaços de intensa discussão de fervor republicano,
levam-no, mais tarde, juntamente com outros companheiros, à revolta do 31 de
janeiro de 1891, vindo, em virtude desta, a ser preso e julgado em Conselho de
Guerra, sendo, contudo, absolvido.
A sua consciência de dever cívico, convocam-no para diversas
tarefas em diferentes organizações associativas, como sejam a Associação de
Proteção à Infância Desvalida, o Orfeão Portuense, o Clube dos Fenianos, sócio
fundador da Associação Portuguesa do Asilo de S. João, diretor do Ateneu
Comercial do Porto e o grande criador do Conservatório de Música. Assume,
também, num espaço de tempo situado entre 1914 e 1921, os cargos de vice-secretário
e de vice-presidente do Senado da Câmara Municipal do Porto, onde reflete um
trabalho demonstrativo de um conhecimento profundo das necessidades da
população e da cidade.
Aurélio da Paz dos Reis foi, ao mesmo tempo, um homem de rara
sensibilidade, a qual ficou bem marcada em diversas obras de natureza
cinematográfica (sendo o introdutor do cinema em Portugal) e fotográfica. Tendo
adquirido, em Paris (1896), uma máquina de filmar e projetar, realizou pela
primeira vez em Portugal, no Porto, 27 pequenos filmes. Destes, o primeiro e o
mais célebre foi a Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança (1896), rodado na esquina das
ruas de Santa Catarina e Passos Manuel na cidade do Porto. Outros se seguiram,
como sejam, O Zé Pereira na Romaria de
Santo Tirso (1896), O Vira
(1896), Manobras de Bombeiros
(1896), Avenida da Liberdade (1896) e a Feira de Gado na
Corujeira (1896).
Detentor da carteira
profissional de Jornalista, aproveitava as suas frequentes deslocações ao
estrangeiro, particularmente a França e Brasil, para retratar as gentes e os seus
costumes, que a imprensa portuguesa, sobretudo a “Ilustração Portugueza”
(1903-1923), edição do jornal “O Século”, publicava.
Aurélio da Paz dos
Reis viria a morrer em 18 de setembro de 1931, deixando entre nós uma forte afirmação
de um cidadão interventivo, com uma praxis pautada por um conjunto de valores
caros à República, levando-o a afirmar-se um homem que, como “um livre
pensador, penso; sou republicano: falo”
António
Nunes
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