sábado, 31 de janeiro de 2015

Aurélio Paz dos Reis – “Portuense, pai do Cinema Português, Republicano e Maçon”



Aos 28 dias do mês de julho de 1862, nascia no Porto um dos seus filhos mais virtuosos e brilhantes, Aurélio da Paz dos Reis.

Teria uma vida plena, entalhada no ideário republicano, maçónico, artístico, associativo e de serviço público.

Desde cedo, em 1882, com apenas 20 anos de idade, torna-se membro da Comissão Executiva dos Empregados do Comércio, abrindo em 1893, a Flora Portuense -hoje a Confeitaria Ateneia-, sendo esta a primeira casa do género em Portugal.

O seu Porto, sob o ponto de vista político, tornava-se num campo de emotivos debates e de constantes conspirações contra a monarquia. Estas, tinham o seu espaço privilegiado nos cafés  frequentados pela elite intelectual, da qual Aurélio da Paz dos Reis fazia parte (o café Lisbonense, o Central, o Suíço da Praça ou o Guichard), e, ao mesmo tempo, num outro espaço de singular importância na ascensão da dinâmica revolucionária da cidade neste fim de século, as Lojas Maçónicas. Aurélio da Paz dos Reis foi mação, iniciado na Loja Honra e Dever, em 1889, adotando o nome simbólico de Homero, tendo em 1895, se filiado na Loja Ave Labor e, finalmente, em 1901, transitado para a Loja Liberdade e Progresso, na qual se manteve até à sua morte.

Estes espaços de intensa discussão de fervor republicano, levam-no, mais tarde, juntamente com outros companheiros, à revolta do 31 de janeiro de 1891, vindo, em virtude desta, a ser preso e julgado em Conselho de Guerra, sendo, contudo, absolvido.

A sua consciência de dever cívico, convocam-no para diversas tarefas em diferentes organizações associativas, como sejam a Associação de Proteção à Infância Desvalida, o Orfeão Portuense, o Clube dos Fenianos, sócio fundador da Associação Portuguesa do Asilo de S. João, diretor do Ateneu Comercial do Porto e o grande criador do Conservatório de Música. Assume, também, num espaço de tempo situado entre 1914 e 1921, os cargos de vice-secretário e de vice-presidente do Senado da Câmara Municipal do Porto, onde reflete um trabalho demonstrativo de um conhecimento profundo das necessidades da população e da cidade.

Aurélio da Paz dos Reis foi, ao mesmo tempo, um homem de rara sensibilidade, a qual ficou bem marcada em diversas obras de natureza cinematográfica (sendo o introdutor do cinema em Portugal) e fotográfica. Tendo adquirido, em Paris (1896), uma máquina de filmar e projetar, realizou pela primeira vez em Portugal, no Porto, 27 pequenos filmes. Destes, o primeiro e o mais célebre foi a Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança (1896), rodado na esquina das ruas de Santa Catarina e Passos Manuel na cidade do Porto. Outros se seguiram, como sejam, O Zé Pereira na Romaria de Santo Tirso (1896), O Vira (1896), Manobras de Bombeiros (1896), Avenida da Liberdade (1896) e a Feira de Gado na Corujeira (1896).

Detentor da carteira profissional de Jornalista, aproveitava as suas frequentes deslocações ao estrangeiro, particularmente a França e Brasil, para retratar as gentes e os seus costumes, que a imprensa portuguesa, sobretudo a “Ilustração Portugueza” (1903-1923), edição do jornal “O Século”, publicava.

Aurélio da Paz dos Reis viria a morrer em 18 de setembro de 1931, deixando entre nós uma forte afirmação de um cidadão interventivo, com uma praxis pautada por um conjunto de valores caros à República, levando-o a afirmar-se um homem que, como “um livre pensador, penso; sou republicano: falo”



António Nunes

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